Senhoras e senhores, boa noite!
Ao cumprimentar a Caríssima Confreira, Prof. Neuza Helena Postiglione Mansani, presidente desta instituição, estendo a minha saudação e agradecimento aos meus familiares e demais presentes nesta sessão magna.
Desde a minha mais tenra idade, a curiosidade me fez pesquisador. Dos brinquedos favoritos, o liquidificador puxado pelo cabo de energia era o preferido – claro, não sem antes de ser devidamente desmontado, inspecionado em sua totalidade e realizada a conferência final do produto. As peças ou parafusos restantes, não tenho dúvidas, eram um equívoco da linha de montagem do fabricante.
O espírito desbravador de um autêntico sagitariano foi conquistado pelo som do piano que ecoava daquela sala à Rua Vicente Machado, 399, na cidade vizinha, Palmeira. Aquele entra-e-sai de alunos da minha saudosa tia-avó, me fez trocar de brinquedo e passar a viver um mundo em cinco linhas, sete notas, oitenta e oito teclas e uma infinidade de histórias de vidas com ferramentas de trabalho em comum.
Nasci em Palmeira, no último 16 de dezembro da década de 80. Sou licenciado em Música pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e especialista em Metodologia do Ensino da Música. Integro diversas entidades culturais da região e agora, no dia 02 de dezembro de 2021, fui eleito membro efetivo da Academia de Letras dos Campos Gerais. Sem floreios ou ostentação de coincidências, digo que a notícia me foi dada logo após ter ouvido no Salão Majestoso do Clube Ponta-Lagoa, a valsa “Doce Reminiscência”, deste que agora é o meu patrono nesta instituição: Bento João D’Albuquerque Mossurunga – o nosso compositor e maestro Bento Mossurunga.
No decorrer dos anos, debrucei-me em pesquisas sobre diversos temas e personalidades da história da música local – incluindo o meu patrono – e, sempre que comentava sobre eles no meu dia-a-dia, as pessoas me instigavam a registrar esses achados. Em parceria com o Projeto Sherlock Holmes Cultura, uma coluna semanal do Jornal Diário dos Campos, tornei públicos diversos textos, sobretudo biográficos, que atualmente é o meu gênero preferido de escrita.
Em 2012 publiquei dois livros biográfico-musicais, um deles do pianista, maestro e compositor Gabriel de Paula Machado – meu saudoso amigo, avô do coração e vizinho de cadeira acadêmica e outro, da pianista e compositora palmeirense, Maria Eunice Baptista Ceccatto. Enquanto diretor artístico do Conservatório Maestro Paulino, entre tantas atividades e projetos desenvolvidos durante os quase dez anos que ali fiquei, fundei o Acervo Histórico Musical Waslau Borkowski, um espaço destinado à pesquisa e à preservação dos documentos musicais do acervo público.
Há muita vida para condensar neste breve momento. Uma vida regada de coincidências e encontros de almas afins que me fizeram chegar até aqui. Tanto é, seguramente, a noite de hoje teve seu cerimonial iniciado naquele agosto de 2006, quando na posse do meu então professor de português, Arnoldo Monteiro Bach, a pianista Estela Maria Monteiro Machado tocou algumas composições do já citado (e sempre presente!) Gabriel de Paula Machado.
Aproveito a referência para interromper a leitura deste discurso e quebrar o protocolo para fazer uma justa homenagem: quero oferecer uma singela lembrança para a minha amiga Estela, que neste momento representa a Família Machado. Entre as outras mil emoções que antecederam este momento, a maior delas foi receber de presente a pelerine que pertenceu ao Gabriel de Paula Machado e que hoje visto em prova da minha mais profunda admiração por esta família em que a música e a poesia se fundem à vida.
Tomar posse na Cadeira Nº 8, cujo patrono, Bento Mossurunga é uma das mais notáveis personalidades musicais dos Campos Gerais, me é motivo de honra e responsabilidade. Nascido na cidade de Castro/PR, aos 6 de maio de 1879, foi aluno de piano do meu conterrâneo Manoel Cristino dos Santos e despontou no meio musical ao ter sua composição “Bela Morena” publicada no periódico “O Malho”, em 1905.
A cadeira Nº 8 tem como fundador, Oney Barbosa Borba, escritor e historiador natural de Ponta Grossa. Não podendo ser diferente, sua vida é marcada por semelhanças à minha: viveu debruçado em documentos e arquivos particulares e públicos, sempre trazendo à vida fatos que há muito repousavam em armários, gavetas e envelopes.
Em agosto de 2002, toma posse como 1º ocupando desta cadeira, o advogado, escritor e professor, Wilson Jerônymo Comel. Nascido em Lagoa Vermelha/RS, veio para o Paraná em busca dos seus estudos e aqui permaneceu até o final de sua vida. É dele a reflexão que escolho para quase finalizar o meu discurso:
“Quem não tem lembranças ou memórias de suas encruzilhadas no passado? Das escolhas que poderiam dar rumos diversos em suas vidas; a recusa de uma oportunidade; a impontualidade de um encontro; a escolha profissional. Caminhos que se abrem e/ou se fecham; consequências maiores ou menores; adiante... a incógnita.”
Meus sinceros agradecimentos aos acadêmicos que me impulsionaram na decisão de me candidatar ao pleito e aos que me confiaram seus votos, me proporcionando mais este desafio. Espero contribuir com as atividades da Academia de Letras dos Campos Gerais da melhor forma possível, honrando suas diretrizes e levando sempre comigo o orgulho de ser mais um filho “da Palmeira” nesta distinta instituição.
Salve a Academia de Letras dos Campos Gerais!
Salve Bento Mossurunga!