Há exatos cem anos, o “Príncipe dos Poetas Paranaenses” Emiliano David Perneta partiu, mas sua presença gigante nunca vai nos deixar. Única. Não teve precursoras, nem deixou sucessoras. Personificou a poesia paranaense, criou um estilo próprio. Erudito, refinado e sagaz, tinha dotes de telepata, percebia as intenções dos outros e as desafiava ou acatava de acordo com sua espantosa intuição. Mais que um poeta genial, Emiliano Perneta é um estado de espírito e não é nenhum exagero dizer que sua obra é quase que uma instituição na vida literária de todo o país.
Para tanto na noite de quinta-feira, do dia 10 de junho, tive o privilégio de expor um pouco sobre a vida e obra do nosso Poeta Maior, que filho do alfaiate Francisco David e de dona Christina Maria dos Santos Perneta, nasceu em 03 de janeiro de 1866, em um sítio na zona rural de Curitiba, região que a partir de 1992 passou a ser o município de Pinhais. Curiosamente, seu sobrenome originou-se de um apelido de seu pai, que era conhecido como o “perneta”.
Iniciou seus estudos na capital paranaense, cursando o Colégio Müller e o Colégio Nossa Senhora da Luz. O jornal o 19 de Dezembro, de 08 de dezembro de 1875, traz a notícia da aprovação de Emiliano, no Colégio Nossa Senhora da Luz, com distinção em português e plenamente em religião e aritmética. Já o secundário, cursou no Instituto de Educação, depois Ginásio Paranaense. E foi exatamente neste período que Emiliano teve uma das mais significativas experiências, tal como relatou o Sr. Benedito Dinis ao escritor Erasmo Pilotto, que era, então, porteiro do estabelecimento de ensino, “de que o Imperador Dom Pedro II, na sua visita a Curitiba, no Ginásio, teve Emiliano entre os seus joelhos e que o menino tremia, sobretudo quando foi levado a ler e analisar um trecho das Décadas de João de Barros. Mais tarde, Emiliano comentaria o fato, observando que Dom Pedro nem poderia sequer supor o ardentíssimo republicano de quem, naquele momento, alisava os cabelos.”
Precursor do simbolismo nacional ao lado de ninguém menos do que o imortal Cruz e Souza, o próprio Emiliano confessou este relacionamento: “Nós éramos uns sete... Eu conheci Cruz e Souza em 1890, no Rio de Janeiro. Eu era muito moço e ele em plena irradiação de seu imenso talento. Numa primeira ‘causerie’ nós nos adivinhamos e nos amamos para sempre. A nossa união intelectual foi absoluta durante três anos. Todo esse tempo, dia por dia, eu o tive ao meu lado, estremecido de amizade, fidalgo de espírito, de caráter e de inteligência.” Nascia deste enlace uma das mais consagradas vertentes literárias.
Com a inclinação para o simbolismo, publicou “Ilusão”, considerada sua obra-prima, na ocasião recebeu a consagração popular, no Passeio Público, quando em 20 de agosto de 1911 foi ali coroado o “Príncipe dos Poetas Parana¬enses”. Logo após, fundou juntamente com Euclides Bandeira o Centro de Letras do Paraná, hoje o maior difusor da cultura paranaense nos mais variados quesitos.
De sua vasta produção literária, destacam-se ainda: Músicas, Carta à Condessa d’Eu, O Inimigo, Alegoria, Papilio Innocentia, Pena de Talião, A Vovozinha e Setembro (póstumo).
No auge de sua vertente literária, Emiliano faleceu repentinamente aos 55 anos de idade no dia 19 de janeiro de 1921 em Curitiba. Seu passamento comoveu toda sociedade paranaense da época e seu funeral foi uma verdadeira apoteose de dor. Na ocasião, o jornalista Hugo do Reis, assim se pronunciou em artigo no Diário dos Campos, datado de 31 de janeiro: “(...) Crucificado nos seus alexandrinos Emiliano Pernetta, transformou-se num herói paranaense e como, outr’ora, os druídas evocavam os seus heróis, possa o povo desta terra alar-se para Deus numa prece sincera por aquelle que tão seu amigo foi. E a terra paranaense, como um banquete fúnebre de outr’ora, eleva as taças – as cópas verdes das araucárias – para celebrar a glória immortal do seu poeta.”
Para coroar a exposição, um magnífico recital com as poesias de Emiliano foi proferido pelos acadêmicos: Arnoldo Monteiro Bach que apresentou “Prologo” (do livro Ilusão), Aída Mansani Lavalle: “Metamorfoses” (do livro de Poesias Diversas), Luísa Cristina dos Santos Fones: “Não sei que poeta...” (do livro Sátiros e Dríades), Giovana Montes Celinski: “Borboletas” (do livro Sátiros e Dríades) e José Ruiter Cordeiro: “Soneto” (do livro Setembro).
E de tudo isso ficam as palavras da presidente da Academia de Letras dos Campos Gerais, Neuza Helena Postiglione Mansani de que: “Emiliano Perneta é mesmo eterno!”.