Após ter construído uma bela trajetória profissional, pessoal e familiar, o que leva um homem a buscar outros horizontes, mudar de rumo e traçar pela arte um novo projeto que o fará entrar para a História?
Estávamos em 1985, e eu, ainda praticamente um menino, era empregado da Caixa Econômica e fui transferido da agência de Castro para uma pequena unidade que havia em Ponta Grossa, na Rua XV. Chegando ali, apresentei-me ao gerente, o Sr. Odenir Follador. Contudo, em questão de dias, eu me senti à vontade para abolir o “Sr.” e tratá-lo apenas como “o Odenir”, já não apenas um chefe, mas o colega das partidas de xadrez ao fim da tarde e, principalmente, o amigo tarimbado que sempre tinha um bom conselho, sem que isso parecesse um conselho. No entanto, ele foi transferido de unidade, afastamo-nos do convívio diário, mas não perdemos a amizade.
Anos mais tarde, eu o reencontrei no litoral, e ele trazia nas mãos alguns exemplares de seu primeiro livro. Sim, já aposentado, o homem que fora militar, gerente de banco, professor de ciências e de matemática, tornara-se autor de um livro, Memórias de infância e outros relatos, cuja leitura me encantou. Sabendo que havia cadeiras vagas na Academia de Letras dos Campos Gerais, eu insisti para que ele se candidatasse, mas, a princípio, meu amigo pareceu relutante.
Na época, eu era secretário-geral da Academia, e foi com surpresa que recebi, pelos Correios, sua inscrição. Submetido à votação em Assembleia Geral, Odenir foi merecidamente eleito para 1º ocupante da Cadeira 27, que pertencera a Idalina Bueno de Magalhães e cujo patrono é José Pedro Novaes Rosas. Logo em seguida, passei a conhecer seu talento poético, que lhe rendeu inúmeros prêmios e homenagens, inclusive internacionais, além de levá-lo a fazer parte de diversas entidades culturais. Nesse tempo, nosso bom Odenir publicaria o livro Associação dos Militares da Reserva – ASMIRE, concluiria Licenciatura em Letras e especialização em Neuro-Aprendizagem, conhecimentos que de forma generosa passou a compartilhar em inúmeras palestras gratuitas na região.
Mesmo estando realizado pessoal e profissionalmente, deve ter sido por sua grande sensibilidade, não apenas artística, mas humana, que Odenir escreveu um novo roteiro para sua vida, um roteiro de sucesso na Literatura; e, assim, ele mesmo se reescreveu; mais que isso, na beleza de seus textos, ele escreveu e reescreveu sentimentos e emoções na vida de inúmeros leitores pelos quatro cantos do país. Relembro os conselhos que ele me dava, eu ainda muito jovem, e percebo que, com sua sempre elegante humildade, quase timidez, ao traçar seus caminhos, Odenir nos ajudava a traçar os nossos.
Mas, agora, pouco depois da partida de sua querida esposa, Odenir também partiu. Por aqui, deixou sua imagem elegante e a lembrança de sua voz segura. Ficou a certeza de que, com trabalho, correção e talento, ele verdadeiramente gravou seu nome no rol dos imortais. Sei que não foi por inteiro que Odenir partiu, pois semeou, em nossas vidas, as suas lições, os seus exemplos, a beleza de seus livros e a arte de seus poemas. Essa talvez tenha sido sua grande lição: a arte de semear.