Cadeira 25
Fundador
Da vasta obra literária do ponta-grossense Eno Theodoro Wanke nascido a 23 de junho de 1929, há de se destacar, entre muitos de seus clecs, aquele com o qual ele deverá ser lembrado para sempre: “O míope, sem óculos, é sempre mais minucioso(!)”. Mas, afinal, o que seria um clec? Palavra sem definição precisa, não dicionarizada, mas servindo bem ao fim a que se destinou: nos clecs de Wanke existem duas inclinações que são inevitáveis – ou tendem para o trocadilho clássico ou vulgar, ou para os silogismos. Enfim o próprio Eno se define: “todo clequista é um domador de perplexidades.” Detalhes como esse a respeito da vida literária de Eno estão na biografia Eno Theodoro Wanke, Sua Vida, Sua Obra, de Terezinha Radetic, que destaca outros clecs do autor, a exemplo de “A fechadura espera o dia inteiro por aqueles rápidos e únicos momentos em que a chave vem fazer amor com ela.”
Como poeta, pesquisador, escritor, contista, biógrafo, trovador, ensaísta literário e humanista, ao longo de quase 50 anos de vida literária, Eno apresenta-se com uma grandiosa obra que se traduz em estudos por uma nova norma ortográfica fonética, ou até mesmo uma “língua brasileira”, ou ainda por trabalhos que demonstram sua preocupação pela didática de metrificação, como ABC do verso e da trova, Conselhos para se fazer a boa trova e A carpintaria do verso. Além de seus estudos, teses e discursos, biografou e foi biografado, traduziu obras poéticas como Rubaiyat, de Omar Khayyam, e também teve seus trabalhos em versões para outras línguas, a exemplo de O vôo da pombinha, em oito idiomas, e de Apelo, um soneto com 100 traduções para 46 línguas.
Eno destacou-se na trova popular e literária, inclusive a humorística, microtrovas, microdísticos, haikais, clecs, sonetos, contos, fábulas e, até mesmo, como lexicógrafo. Como dicionarista, preocupou-se, inicialmente, com os cacófatos, tanto que, em 1984, Eno saiu com a primeira edição do original Dicionário dos Cacófatos, ampliando e melhorando-o na segunda, de 1990. A bem da verdade, Wanke aprofunda o conceito de cacófato, dizendo ser ele “um ruído indesejável, algo que desvia a atenção do leitor ou do ouvinte daquilo que o autor quis, realmente, exprimir, ou seja, um ruído de comunicação”. Outra incursão de Eno pela lexicografia garante-o na bibliografia do Dicionário Aurélio, através do Dicionário lusitano-brasileiro, publicado em 1981, com grande repercussão na época, inclusive chamando a atenção do escritor Fernando Sabino, o qual o utilizou em diversas crônicas da série Dito e feito, que ele mantinha em mais de 100 jornais.
Wanke tomou posse na Academia de Letras dos Campos Gerais, em 2 de junho de 1999, como fundador da Cadeira de nº 25, em cerimônia realizada no Clube Pontagrossense, quando foi recepcionado por Túlio Vargas, presidente da Academia Paranaense de Letras. A verve literária de Eno Theodoro Wanke haverá de ser lembrada sempre pelo seu talento invulgar, incondicional e irrestrito, que pode ser constatada em diversas de suas obras publicadas, mas também em inúmeros textos que deixou inéditos. Eno faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 28 de maio de 2001.